Apago, recomeço, apago, e recomeço outra vez...
As horas passam, já é noite. O mundo escureceu. Recomecei
novamente e não quero ter motivos para apagar, estou cansada dessa incessante
briga comigo mesma. Deixo-me guiar pelos dedos, escrevo sem o intuito de corrigir
os meus erros. Escrevo por que as palavras que me vêem agora são como vozes que
me dizem coisas, e eu não podemos apagar o que dizem outras vozes. Eu não posso
frear os sussurros, não mais.
Nesse instante meu peito estar tomado de raiva, nesse instante
eu queria poder não ser eu, pois dessa forma, fugindo de mim mesma eu não
sentiria essa incapacidade juntamente com esses sentimentos de ódio, e seria,
quem sabe, um alguém melhor. Mas não posso fugir, por mais que eu queira, sei
que é inútil ignorar o que se passa dentro de mim, assim como é inútil escrever essas palavras. Mas faço isso por que de certa forma espero me esvaziar.
O meu coração dói, e não posso respirar normalmente. Fugir
seria o mais correto? Mas para onde? Que lugar abrigaria um ser tão complexo,
cheio de enigmas e mistérios? Não. Eu não devo fugir a dor não me abandonará. Ela
está aqui, tocando friamente o meu ombro. Eu posso senti-la. Ouço suas frases,
sozinha nessa casa, a mercê da noite. Mas não a temo, não.
Continuo sentindo raiva, e provavelmente sentirei até que se
esgotem as palavras, ou que simplesmente canse de escrevê-las. O mundo não se
importa. O mundo não é nada, e eu não sou parte dele. Vivo solitariamente a minha própria solidão, e
não quero companhia nessa caminhada incerta que se chama vida. Sinto-me bem
dessa forma. A solidão me abriga no ápice da minha decadência interna, entende
minha dor melhor do que as palavras, e até, melhor do que mim mesma.
Sinto minha raiva se esgotando por dentro, afundando nas
águas turvas das minhas lágrimas reprimidas. Estou bem. Temporariamente bem.
Agora não a por que continuar a escrever. Pouparei as palavras, pois sei que
brevemente precisarei das mesmas. Descanso-as dentro de mim, para que no futuro
incerto elas possam ser a salvação da minha alma.

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