Sinto o tempo se esgotar na medida em que passa diante dos
meus olhos, e eu, nessa incapacidade crescente nada posso fazer para impedi-lo de
correr com essa rapidez de um piscar de olhos.
Estou exausta dessa correria incessante que me toma o
respirar. Tenho coisas que necessitam ser feitas, e pouco tempo para
realizá-las. Pressinto muitas vezes que não serei capaz de cumprir tudo aquilo
que almejo, e por isso a tanto martilho. Sofro por não entender como o tempo
não pode esperar os meus objetivos se fundirem na mais apalpável liberdade que
me toma os sonhos. Sofro, pois não consigo ser o que quero nesse instante tão
incerto.
Como disse o tempo corre, ele não espera, não para, não
cessa. Corre diante dos meus olhos como se para ele eu não passasse de uma mera
pedra no seu caminho. Será então que o tempo corre para longe de mim? Nesse
instante tenho vontade de gritar, pedir que me espere que possa quem sabe
diminuir os seus passos tão ligeiros, e que eu possa acompanhá-lo. Mas lá vai
ele, correndo, não se sabe em que esquina seu destino estará, apenas que ele,
sozinho, vai. E onde eu estou que não ao seu lado, correndo junto dele para a
esquina que nunca me chega? Onde estou se não aqui, parada na mesquinhez dos
meus medos absurdos, nessa incapacidade tola de me fazer ser aquilo que almejo.
Por que não posso ser então como o tempo que nada espera dessa vida? Por que
não posso enfim ser?
Tenho impedimentos aprisionados. Sou uma prisão de mim mesma!
Sou? O que sou?
Não poderia me descrever aqui, pois nesse momento não sou
nada além da minha escrita um tanto chula para ser sincera. Mas sinto que sou
algo ainda sem nome, um paradoxo dos sentimentos tão remexidos, aprisionados.
Aprisionados. Uso tanto essa palavra que já me sinto presa
nela. Aprisionada no que não sei escrever, porém sinto.
O tempo caminha agora mais lento, já não corre mais. Será
que eu poderia enfim alcançá-lo? Quero ser aquilo que desejo! E para ser
preciso abrir mão de certas necessidades que ainda me são tão fortes.
Libertar-me seria a palavra correta. Pois é disso que preciso para seguir em
frente e trilar o meu tortuoso caminho sem ter que pensar em tudo aquilo que
deixei para trás, ser como o tempo, que corre sem medo do que vai ficando na
poeira. Não pensar em nada, apenas em ir, sem destino, ou moradia. Ir. Até onde
o mundo me couber, onde as coisas não ditas já não importam mais.
Choro, pois não consigo me descrever aqui e agora. Choro, e
quem sabe chorarei amanhã e todos os dias que virão até o momento em que eu
possa me descrever em palavras. Não sei o que sou, e tenho medo de me
descobrir. Prefiro então esse mistério de não me conhecer? Sim! O mistério que
me toma é o mesmo que me fascina. Não sei quem sou, e choro. Não sei quem sou e
continuo a me procurar. Sou o mistério de não saber quem sou. A palavra não
escrita, a voz calada, o sentimento reprimido. A vontade de chorar. O mistério
de ser.

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