domingo, 10 de fevereiro de 2013



“Vai passar, é só respirar fundo.”

“ Droga, eu não consigo. Não dá pra segurar! Mas eu sou forte. Eu sou forte e eu não vou.. Eu não posso.. Não agora, não aqui. Não na frente de todos”

Respira. Vai passar, não é mesmo? Sempre passa! Você é forte, Carla. Você é forte e as coisas vão melhorar você vai ver que mais cedo ou mais tarde tudo vai ficar bem. Não precisa chorar, não há por que abafar o choro com o travesseiro. Eu sei que agora isso dói mais do que você imagina que conseguira suportar. Eu sei que ai dentro existe partes quebradas, mas tudo se resolverá, não é mesmo? Vai passar uma hora isso passa.
Então enxuga essas lágrimas. Isso! Vai lavar o rosto, e sorri. Sorri por que o mundo espera isso de você. Por que você é forte, não é mesmo? E todos sabem que você é forte, então não mostre o contrário, não agora. Não diante deles, e diante de si própria.
Meu Deus, como você está vulnerável! Isso não pode acontecer. Cadê a sua força? Aquela que você construiu depois de tudo que aconteceu. Ela sumiu, é eu sei. Ela foi embora, e você voltou a ser tão quebradiça, meu Deus...
Não. Nada de lágrimas novamente. Nada de choro escondido em baixo da coberta. Você não precisa se mostrar vulnerável só por que estar. Você sempre conseguiu esconder tão bem os seus pensamentos, e não, não será agora que isso ira mudar, ok?

Então por favor, contenha suas lágrimas...

Parece que há sempre alguém que desaprova.
Eles vão julgar como se eles soubessem algo sobre eu e você.
E o veredicto vem daqueles que não tem mais nada o que fazer.
O júri está fora, mas a minha escolha é você.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Reflexo de medos


De repente eu me vejo parada em estradas desconhecidas, uma possui flores de todas as cores, porém a outra não há nada. Nada que me induza a seguir em frente, a dar os primeiros passos, mas mesmo assim eu caminho, me afasto das flores, dos cantos dos pássaros, e vou por uma estrada de vegetação seca, de pedras grandes, sombrias. Eu vou até onde os meus pés aguentarem. Vou, pois tenho medo de parar em uma encruzilhada sem destino certo, sem um caminho predestinado, sem um lugar que seja inteiramente meu. 
Temo o meu caminho, pois nele a muita curva e todas elas são cheia de nevoas que me impedem de enxergar o que possui a diante. Eu caminho de olhos fechados, com medo de tropeçar nas grandes pedras que até agora –apesar ainda cega- consegui me desviar. Não sei quem sou, acho que a escuridão desse caminho tortuoso me tirou a pouca lucidez que ainda me restava. Sinto-me oca, mas continuo. A caminhada agora é longa, e eu já não sei para onde vou.
Medo. Tenho medo a cada novo passo. Medo de seguir em frente, medo de parar, de olhar para o lado e encontrar fantasmas me olhando. Medo da solidão que me acompanha e me protege. Medo do silêncio que grita por entre as arvores secas de um caminho que não terá fim.
Sou um reflexo dos meus medos! E já não sei como conseguirei me desprender de cada um deles, pois sinto que me dominam, me aprisionam, me mantém refém, enquanto eu nada posso fazer. 
Caminharei então por essa estrada tão escura, mas não me importo. Estou cega, e seguirei o meu extinto, deixarei que a escuridão me leve, serei guiada pelas sombras na espera que elas me induzam até o fim desse caminho tão árduo ao qual eu estou presa desde o meu nascimento. 

sábado, 12 de janeiro de 2013

... Então sim, poderia afirmar, gritar ao coveiro, que Clarice me era mais familiar do que qualquer outro ser no mundo. Com ela eu tinha finalmente uma coisa parecida. Uma coisa fundamental. Ela era alguém que me olhava nos olhos, e nesse olhar estava o segredo que compartilhávamos. Um segredo que só existia pela cumplicidade de sabê-lo, como todos os segredos de família  Ela afastava de mim o temor de enlouquecer só por que aquilo que eu sentia ainda não tinha nome. E me encorajava a ser o que eu era, a gostar de sê-lo. Assumia a minha estranheza, apontava-me a beleza que havia nela e, sobretudo, cercava-a de dignidade...


Vésperas.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Tempo


Sinto o tempo se esgotar na medida em que passa diante dos meus olhos, e eu, nessa incapacidade crescente nada posso fazer para impedi-lo de correr com essa rapidez de um piscar de olhos.
Estou exausta dessa correria incessante que me toma o respirar. Tenho coisas que necessitam ser feitas, e pouco tempo para realizá-las. Pressinto muitas vezes que não serei capaz de cumprir tudo aquilo que almejo, e por isso a tanto martilho. Sofro por não entender como o tempo não pode esperar os meus objetivos se fundirem na mais apalpável liberdade que me toma os sonhos. Sofro, pois não consigo ser o que quero nesse instante tão incerto.
Como disse o tempo corre, ele não espera, não para, não cessa. Corre diante dos meus olhos como se para ele eu não passasse de uma mera pedra no seu caminho. Será então que o tempo corre para longe de mim? Nesse instante tenho vontade de gritar, pedir que me espere que possa quem sabe diminuir os seus passos tão ligeiros, e que eu possa acompanhá-lo. Mas lá vai ele, correndo, não se sabe em que esquina seu destino estará, apenas que ele, sozinho, vai. E onde eu estou que não ao seu lado, correndo junto dele para a esquina que nunca me chega? Onde estou se não aqui, parada na mesquinhez dos meus medos absurdos, nessa incapacidade tola de me fazer ser aquilo que almejo. Por que não posso ser então como o tempo que nada espera dessa vida? Por que não posso enfim ser?
Tenho impedimentos aprisionados. Sou uma prisão de mim mesma!
Sou? O que sou?
Não poderia me descrever aqui, pois nesse momento não sou nada além da minha escrita um tanto chula para ser sincera. Mas sinto que sou algo ainda sem nome, um paradoxo dos sentimentos tão remexidos, aprisionados.
Aprisionados. Uso tanto essa palavra que já me sinto presa nela. Aprisionada no que não sei escrever, porém sinto.
O tempo caminha agora mais lento, já não corre mais. Será que eu poderia enfim alcançá-lo? Quero ser aquilo que desejo! E para ser preciso abrir mão de certas necessidades que ainda me são tão fortes. Libertar-me seria a palavra correta. Pois é disso que preciso para seguir em frente e trilar o meu tortuoso caminho sem ter que pensar em tudo aquilo que deixei para trás, ser como o tempo, que corre sem medo do que vai ficando na poeira. Não pensar em nada, apenas em ir, sem destino, ou moradia. Ir. Até onde o mundo me couber, onde as coisas não ditas já não importam mais.
Choro, pois não consigo me descrever aqui e agora. Choro, e quem sabe chorarei amanhã e todos os dias que virão até o momento em que eu possa me descrever em palavras. Não sei o que sou, e tenho medo de me descobrir. Prefiro então esse mistério de não me conhecer? Sim! O mistério que me toma é o mesmo que me fascina. Não sei quem sou, e choro. Não sei quem sou e continuo a me procurar. Sou o mistério de não saber quem sou. A palavra não escrita, a voz calada, o sentimento reprimido. A vontade de chorar. O mistério de ser.