Clarice...
Sabe quando as palavras explodem em sua cabeça como diálogos de dois amigos em uma tarde nublada de maio? Foi desta forma que meus pensamentos ficaram quando num daqueles impulsos vitais eu quis lhe escrever. A principio não soube ao certo como expor minhas palavras (e talvez ainda não saiba), mas então percebi que escrever é uma das poucas coisas nas quais deveríamos deixar o impulso nos levar, então eu permito, Clarice, que assim como os ventos levam às ondas de encontro à praia as palavras possa levar-me até o mais intimo da minha alma, fazendo com que as flores dos meus silêncios desabrochem.
Há pouco ouvi soar o sino da igreja em três longas badaladas, e pude então recordar de tuas palavras:
“Às três horas da tarde sou a mulher mais exigente do mundo. Fico às vezes reduzida ao essencial, quer dizer, só meu coração bate. Quando passa, vêm seis da tarde, também indescritível, em que fico cega.”
Tenho convicção de que agora –enquanto me deleito na xícara de café e em tua carta- o seu pequeno coração bate. Mesmo que os fatos me mostrem o contrário, eu continuo crendo em tuas palavras, e mais ainda, creio que agora o teu coração vive com a mesma liberdade daqueles pequenos pássaros que voam sem destino.
Não sei ao certo quando, mas algum dia estas palavras chegarão até suas mãos, e Clarice Lispector enfim saberá que vive eternamente dentro de mim.

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