Neste instante posso ouvir cada pequeno barulho vindo da rua. Apesar de ser tarde da noite ainda há pessoas caminhando em silêncio, acompanhadas pela lua.
Meus ouvidos tentam captar todos os sons, mas meu corpo foi tomado por uma onda de paz, e meus olhos que de tão embriagados por este aroma, agora se fecham para esse mundo cético em que habito.
Meu espírito voa. Atravessa paredes, toca nuvens, e dança melodicamente os sons da noite. Sinto que estou sendo levada para um lugar ainda desconhecido, mas não sinto medo. Deixo que o vento leve-me até onde ficam as memórias mais resguardadas do passado.
Estou em um quarto, mas não consigo me enxergar, porém meus olhos observam tudo com clareza. A cama desarrumada, o abaju ainda ligado, e uma jarra de água pela metade. As paredes de cores calmas e tristes, e folhas. Milhares de papeis soltos pelo chão, e todos completos de uma caligrafia marcante.
Caminho por aquele cômodo sem vida, tocando meus pés na textura dos papeis, até que meus olhos a encontrou.
Seria ela a dona de todo esse sofrimento?
Aproximo-me, mas ela parece mergulhar em um universo restrito a tudo e a todos. Seu vestido aparentemente elegante está totalmente repleto de barro, juntamente com suas mãos que parecem firmes ao segurar um antigo livro. O Vento que invade o quarto faz bagunçar ainda mais aqueles enormes cabelos negros. E ela continua prisioneira dos seus próprios devaneios, talvez apenas a espera que eles um dia possam levá-la para longe de tudo que nunca de fato lhe fez bem.

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