-Já não consigo escrever!- Disse por fim, encostando-se nos enormes troncos de um antigo carvalho, aninhando-se nas folhas secas que cobriam o chão. O homem que estava ao seu lado permanecia intacto ao seu silêncio quase materializado. Possuía os olhos fixos no horizonte com cores de um belo fim de tarde. Ao longe se era possível ouvir os cânticos dos pássaros que exaustos de um longo dia procuravam descanso para seus pequenos corpos. O vento era o único som que ambos podiam ouvir naquele momento.
-Não me dirá nada?- Questionou a mulher de olhos tristes e distantes.
-Estou procurando entender o motivo pelo qual você afirma não conseguir escrever – Respondeu o homem de vestes longas e negras.
-O mundo não me proporciona nada que possa ser escrito! Aos meus olhos tudo parece um eterno preto e branco, e minhas mãos não ultrapassam essas grossas camadas de cores sem vida!-
Ao ouvir aquelas palavras o homem voltou ao seu silêncio. Seus olhos captavam cada detalhe do fim de do dia e o começo de uma nova noite. –Eu vendo observando um enorme problema na humanidade! Todos querem a sabedoria da forma errada, e só sentem-se totalmente satisfeitos quando afirmam serem donos da situação, e assim pensam que podem lhe dá com o mundo a sua volta. Isso faz com que o espírito que habita nosso interior murche, pois não conseguirá sentir o prazer das descobertas que o universo nos proporciona. Você afirma não conseguir escrever, e ao falar isso inconscientemente está afirmando não poder evoluir mais, e acreditemos, todos nós evoluímos até o ultimo segundo de nossas vidas. Somos como esse carvalho, crescemos tão lentamente que muitas vezes nem notamos. Até que de repente ultrapassamos tudo o que jamais pensamos em conseguir alcançar. Tornamo-nos grandes, e o tempo ajudou-nos a fixar nossas raízes no chão.
A escuridão já tomava conta do lugar quando o homem acendeu o lampião, deixando que a luz amarelada invadisse por completo o lugar onde estavam.
- Então se estou evoluindo como diz, por que será que aos meus olhos tudo parece monótono e sem vida?-
-Por que a vida está dentro de você! Talvez agora ela se encontre presa em alguns dos tantos becos do seu coração. E você só poderá encontrar sentido nas coisas ao seu redor quando se descobrir novamente-
O homem de palavras sábias foi aos poucos deixando o carvalho, e caminhando em direção a escuridão. Enquanto ela permanecia no mesmo lugar observando a noite que de tão silenciosa parecia sussurra-lhe confidencias. E foi aos poucos compreendendo que para viver era preciso entender o silêncio de cada ser que habita o universo, e que o espírito na maior parte das vezes necessita desta solidão para encontrar-se com a sua própria essência. Ela então entendeu que nunca deixou de evoluir, mas que apenas deixou que a monotonia apoderasse dos seus dias. E foi então que depois de tanta relutância suas mãos ainda tremulas tocaram uma folha de cores gastas juntamente com uma pena, e aos poucos foi recomeçando a ouvir o que a solidão tinha a lhe dizer, e registrando com palavras toda a grandiosidade do mundo.

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